E ela acorda forçando o sorriso pra dizer a alguém que acordou feliz.
Olhou pros seus trapos velhos e tentou imaginar seda pura. Era burrice contar os buracos feitos pelo tempo e pelas traças. O tempo continuaria passando.
Tomou seu café com pão. Tentou lembrar o sabor e o cheiro do queijo. Do prato. Comia com a mão.
Escreveu duas linhas tortas achando que era poesia concreta.
Fez caretas pro espelho pra não se esquecer dos tempos de palhaça de circo, quando roubava banana dos macacos. Nessa época não sentia fome. Era gorda dos olhos.
Agora, depois da refeição, resolveu tirar mais um cochilo. Nos seus sonhos às vezes surgia um príncipe que vinha a pé, sem calçados.
Ainda assim era bom. Melhor que nada.
Acordou e forçou um canto pra dizer a ninguém que sabia cantar.
Olhou pros seus trapos velhos e imaginou algodão. Era burrice contar as manchas do suor de outrora. Já não suaria mais.
Tomou mais café com pão. Frio e duro. Até lembrava como fazer fogo, mas teve preguiça de esfregar as pedras.
Escreveu duas linhas retas achando que era testamento.
Quebrou o espelho pra esquecer o quanto a fizeram de palhaça, roubaram suas bananas e secaram suas vontades.
Teve enjôo de pensar em dormir e ver o príncipe a pé, descalço, de pés sujos. Era pior que qualquer coisa.
Resolveu deitar junto aos seus trapos. Era burrice pensar no frio. Uma hora acaba fazendo calor.
Juntou tudo às pedras do fogo e fez um travesseiro de brasa.
Deitou, não sorriu, não cantou, e não sonhou.
Melhor que nada.